sexta-feira, 20 de abril de 2012

Decorrências

A luz do bar, fraca como de costume, juntamente com a temperatura alta, fazia com que a maioria ali presente optasse por permanecer do lado de fora do estabelecimento. Ao som de Led Zeppelin, as pessoas formavam grupos de conversação embaixo do antigo poste de luz amarelada.

A garota prendia o cabelo e se recostava para trás, enquanto o garoto buscava dois copos de cerveja e cumprimentava os conhecidos que ali estavam.

O assunto daquela noite era o mesmo de todas: nenhum em particular. O casal de amigos conversava tanto sobre música, quanto como assuntos mais complexos. Às vezes religião, às vezes política. Mas, por mais que falassem de violetas ou de dimensões do universo, sempre acabavam em altas risadas porque, no fundo, nada daquilo que saía de suas bocas era para ser levado a sério. Ou, pelo menos, ser considerado relevante no momento.

Em meio a palavrões e carinhos, insultos e abraços, os dois formavam uma perfeita sincronia. Haviam formado um vínculo tão forte, que nada mais os separara. A vida os tornara irmãos.

Ao fim de mais uma tarde rendida à alegria que um ser pode transmitir ao outro só pelo fato de se fazer presente, conversavam mais uma vez, porém agora, por telefone. Relembravam tudo o que acontecera, e gargalhavam ao recordar das bobagens ditas. Sendo confidentes e sinceros, sempre permaneciam iguais um perante o outro.

Mas, o futuro chamou, trazendo consigo a mudança.

Era fim de estação e os dias encurtaram. Da porta do bar, já se podia sentir o vento, imponente, fazendo com que todos fossem obrigados a colocar seus casacos de tom neutro e suas jaquetas de couro.

O tempo havia passado e não mais as mesmas pessoas se encontravam ali. Não havia mais sorrisos, não havia mais barulho. Havia apenas um silêncio profundo que ofuscava o sombrio da noite.

Alguém começara a sentir demais. Colocara sentimentos muito fortes, além da amizade, e quebrara o elo de conexão segura que existia entre as duas pessoas.

Passavam não mais a ter assunto. As horas eram demoradas, e o brilho da lua era a única paz do lugar.

Os copos, agora, encontravam-se vazios, a mente recheada, e o coração com um buraco sem fim, aonde o som da pedra jogada, jamais seria ouvido bater ao chão.

O mundo causa isso. Nos leva a amar, nos impõem a sentir. E como resultado, vivemos um sofrimento inesgotável, que elimina quaisquer possibilidades de lutarmos.

Por que não podemos ser fortes, frios, inabaláveis? Por que não podemos apenas sentar e apreciar a companhia de quem nos faz bem, pra sempre, sem causarmos um maldito de um caos emocional?

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