sábado, 26 de maio de 2012

Borboleta amarela

Lembro de tempos remotos.
Via-me pequena, contando borboletas que sobrevoavam as flores do quintal.
Eram tantas! Diferentes cores e tamanhos. Mas, na mente, guardava as amarelas.
Recordo de sua luz, brilhante, confundindo-se com o calor vindo do sol.
Inconscientemente, misturava-me com seu esplendor.
Guardo aqui dentro, é a mais nobre das lembranças.

Eu não sei se foi o tempo, mas aquela fulgura sumiu.
Não existem mais tantas borboletas colorindo o céu.
Talvez seja eu.
Cresci e esqueci. Deixei de ser aquela pequena perante o simples.

Mas ainda existe o amarelo em mim, essa cor nunca me deixou.
Provavelmente está no fundo, escondida.


Entretanto, sempre me pego pensando nela.
Vai e volta. Reacende em forma de sorriso.

domingo, 20 de maio de 2012

Decesso

Uma trilha de cacos de vidro no asfalto é o que se enxerga.
O ar gélido mantém o tom de luto. Paisagem cinza.
Bocas de espanto; olhares sedentos pela escuridão.
Através de janelas e portas, pessoas espiam para saber o que se passa. Porém, atitude alguma é tomada.
O sangue continua a escorrer.
Nada pronunciado. Nada é resolvido.
Aquele corpo, atirado em meio ao terreno isolado, chamara a atenção dos curiosos. Formara-se uma ignorante aglomeração de pessoas que, agora, divertiam-se com a desgraça.
Seres imundos. Sentiam paz e plenitude ao ver a carcaça presente, como se a falsa comoção fosse lhes render o céu.
Um ser havia sangrado e a ruela estava infestada de hipócritas.
O chão frio, azul. Cena lenta.
E eu ali, perdida. Não havia motivos para estar presente.
Perguntava-me o por que de ainda estarem olhando para a moça ensanguentada. Até se dar conta de quem se tratava.

Bem, também passara a observar.
Olhava daqui, insípida. Olhava para si mesma.
Via os traços inexpressivos e notava as mentes fervendo ao redor do cadáver duro.
Tentava sussurrar algo, mas era em vão.

Já estava morta.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Nada além de um desejo

Um campo bem verde, cachorros correndo, girassóis em tamanha quantidade e uma velha casa no topo da montanha.

Frio, vento na medida exata e o sol fraco, porém, brilhante.

O cabelo dourado esvoaçando e o tênis surrado formavam o par perfeito para o moletom preferido.

Shorts, pois as pernas não sentiam a temperatura como os braços.

Após um tempo parada, admirando a paisagem, fizera um pedido.

Outro alguém surgira na cena.

Um coração pulsante na encosta do morro e um sorriso tímido que liberava endorfina à quilômetros de distância.

Poucas e leves nuvens, brisa calma e aconchegante e o soar dos pássaros.

Silêncio esteriótipo e uma euforia barulhenta do lado de dentro.

Um espaço cada vez menor entre os personagens. Respiração exagerada e uma sensação de paz espiritual.

Ao fundo, ouvia-se um som inapropriado para o momento. Uma música chamada realidade, que afastava toda a beleza do sonho.

Sim, sonho. Despertara e se deparara com nada mais, nada menos, do que um quarto escuro e rachaduras na parede.