segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Quem sabe com o tempo...

Eu nunca entendi o ciúme. Aquele exagerado, egoísta, que tende a criar paranoias na mente das pessoas. Tudo bem um que seja leve, feito vento no cabelo. Apenas um zelo de amor.

Eu nunca entendi muito bem aqueles que correm atrás do outros. Se o dito cujo não está nem aí, por que a correria? Relaxa e senta. Entra na roda de chimarrão. Quem se importa, se importa.
Eu nunca entendi aquela pressa de amar, a rapidez em soltar um “Eu te amo”. É essa precipitação que acaba com os relacionamentos. Primeiro, pega a mão. Abraça, beija a testa. Olha sincero. Fala baixinho.
Eu nunca entendi mulher que prefere salto alto. Põe esse pé no chão, garota! Fecha os olhos e sinta a terra adentrar e acariciar seus dedos. Ou põem um tênis, opte pelo confortável.
Eu nunca entendi homem que coleciona garrafas de uísque e fuma cigarros. Bebe uma cerveja gelada, rapaz! Vai lá e cria uma barriga. Troca a tosse da fumaça por uma bala de hortelã.
Eu nunca entendi porque a magreza é sinônimo de beleza. Engorda essa coxa, para de reclamar do culote! Cuida do corpo, mas, permita-se ter onde apertar.
Eu nunca entendi a vontade da humanidade em tornar-se gente grande. Qual a alegria em abandonar bonecas, carrinhos, jogos, ursos de pelúcia? Pega tudo e brinca de ser criança. Pinta a infância aí dentro. De vez em quando faz bem.

Eu nunca entendi quem não gosta de escrever. Por pra fora, limpar as gavetas, esvaziar as caixas, colocar em ordem os arquivos mentais. Arranca uma folha de papel, rabisca um desabafo com a caneta. Não precisa mostrar, guarda com segurança embaixo do travesseiro.
Eu nunca entendi quem não gosta de animais, quem não conversa sozinho, quem não faz caretas na frente do espelho, quem não tem cócegas nos pés, quem não canta no banho.

Eu nunca entendi gente que não chora, gente que não ri.
Eu nunca entendi porque janeiro passa tão rápido e porque não é frio o ano inteiro. Eu nunca entendi porque gosto da lua, porque sonho com estrelas, porque escrevo sobre borboletas, porque quero um campo de girassóis só pra mim.
Eu nunca entendi porque brinco de tentar ser poeta.

Até finjo que não entendi, e continuo aqui. Eu nunca entendi porque não entendo.

Mas, quem sabe com o tempo...

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Sobre rostos e corpos

Espero-te, escondida nas sombras. Quando a noite cai e teu instinto floresce, debatendo-se contra o corpo que insiste em se esgueirar na busca por proteção racional.
Apreendo um desvio de olhares. No instante em que, por sigilo, as mãos se topam, e se enroscam, e pedem por mais.
Cheiros e peles se encontram num misto de únicas sensações - o de roçar a nuca, o de acalentar os membros - tais quais liberam comodidade, familiaridade.
De repente o lado obstinado se entrega. Fecho os olhos e te transformo num desenho posto ao espaço infinito. No mesmo lugar estamos, no qual se movem os astros.
Ora para recomeçar, ora para terminar.

E agora me ato ao desconhecido. Espero-te, sentada num toco de madeira. Olhando para o céu em aguardo a uma nova nuvem que virá a se formar com os traços de teu rosto.

Ei, pequeno conquistador!

Por onde andas sua amada?
Subiu a torre mais alta, do castelo mais distante, implantado em meio as defesas mais assustadoras para encontrar apenas o vento batendo na cortina sobre a cama vazia.
Não encontrou a moça de seus sonhos e gastou uma vida inteira a procurar.

Mal sabia o príncipe que sua princesa encontrava-se logo ali, jogando sinuca e tomando cerveja no boteco da esquina.