sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

terça-feira, 21 de maio de 2013

A pessoa grande dizia que os pequenos fragmentos de vidro, crescentes ao redor da menina, alegravam e causavam admiração às pessoas.

Então, por que Alice continuava a se cortar?





quinta-feira, 18 de abril de 2013

Mas mesmo que ela vá embora e não deixe mais recados na parede do teu quarto, vai ser amor.
Nas madrugadas inseguras onde paixão, medo e tolice se juntam numa coisa só.
Vai ser amor daqui à lua.
Vai ser amor quando ninguém estiver olhando.
Em seus olhos ficarão guardados os segredos, os sorrisos, os “E se...” de um ontem distante.
Em suas mãos restarão os carinhos, as verdades, os abrigos.

Mas, enquanto ela acena, o mundo vai ficando mais bonito. Lá do alto.
Onde a brisa é suave e todo coração é balão solto no ar.



terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Ela caminhou um pouco pela casa vazia e silenciosa, liberta ao desfilar sem roupas. Soltou os cabelos longos, ligou o som. Kashmir tocava a um volume descomunal enquanto ela admirava as curvas e as marcas de seu corpo desnudo em frente ao espelho. Alguns novos roxos, algumas velhas cicatrizes. No rosto um semblante desesperador, como se não existisse voz para um grito.

Cansou-se das sombras da visão e dirigiu-se à cozinha. Seu café já devia estar pronto.

Ao esperar que ele não lhe queimasse mais os lábios, sentou-se, desenhando círculos às palavras mal acabadas de um texto qualquer, em uma folha qualquer. Desenhou uma cabana e um lago. Começou a desenhar uma face, mas inquietou-se com o local.

Sem se importar com o fato de que já era meia noite e meia e de que se encontrava na mais pura solidão, saiu, deixando a bebida amarga esfriando sobre a mesa.

Vestida com um shorts jeans e a camiseta desbotada de uma banda antiga do colegial, primeiras peças à vista, acompanhou o ritmo das nuvens que tentavam encobrir o brilho da lua.

Subiu a rua, dobrou à direita. Normalmente teria ido para o outro lado, mas a noite lhe indicara o acaso.

Sem dinheiro, sem telefone. Sem vontade de se comunicar com aquilo que pudesse palavrear. Abominava a ideia de que teria de aturar vozes. Não conseguia cultivar antipatia nem mesmo aos mais falsos seres do convívio.

Cruzou o parque e não avistou ninguém além das árvores. Chegou na avenida principal e deu olá somente ao vento. As luzes dos postes brilhavam intensamente na rua deserta.

Caminhou mais alguns metros e enxergou fumaça. Correu em direção a ela, mas não havia nada lá.

Ao lado da sorveteria encontrou um jornal atirado ao degrau. O juntou, era da semana passada.

Por horas vagou naquela cidade abandonada. Procurando se encontrar, procurando saber se só ela estava acordada. “Poderia ter vindo sem roupas”, dizia sua mente transtornada. Mas sorria por não ter ninguém ali.

Bem, voltou pela estrada do parque. A cena estava igual a de antes. O vazio, as árvores.

Chegando em casa, somente o som do silêncio.

Ela nem lembra como, mas deitou-se na cama e mergulhou profundamente nos sonhos.

Lá fora ainda era escuro quando, num solavanco, despertou. Talvez tivesse dormido demais, talvez de menos.

Acordou exausta, como quem correra milhas. Com os olhos meio cerrados, encontrou a pia e encheu um copo com água. Ao virar-se, fitou a direção da mesa central.

Um corpo nu, gélido, jazia sobre palavras mal acabadas de um texto qualquer, em uma folha qualquer. Ao lado, uma bebida amarga fria e uma melodia que entrava contígua com o sol, batendo de leve em cima da cena azul.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Queria não ter atravessado a ponte. Queria não saber o que se passa do outro lado.
Quem me dera tivesse caído quando a velha madeira podre se rompeu...
Ah, quisera eu não ter sido forte o bastante para escalar o despenhadeiro.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Casa vazia

A casa estava disponível para locação. Novamente fora colocada aquela placa de “aluga-se”, já com a escrita gasta e com a estaca bamba. A dificuldade em fixá-la era tamanha, notada na demora ao conseguir adentrá-la ao solo.

Muitas caixas estavam sendo retiradas lá de dentro, desocupando o espaço que, agora, era completamente oco, deixando à mostra as rachaduras e as infiltrações disfarçadas pelos anos de falsos encaixes às bugigangas colecionadas.
Todos os móveis comprados vinham com problemas - suportáveis até certo período - mas que depois acabavam sendo integrados ao clube dos imprestáveis, entulhados dentro de lixeiras quaisquer.
A cama de casal e o guarda-roupa haviam sido encomendados com antecedência, porém os cálculos não se fizeram exatos e as medidas não proporcionais transformaram o quarto em uma desorganização total de espaço.
A tinta vermelha, vinda mais tarde, foi utilizada na pintura da sala de estar. Borrou pedaços do assoalho e, pouquíssimo depois, quando seca, descascou. Chegou a ser pior que a coloração escura de antes, a que deixara pingos permanentes em lugares inconcebíveis.
Suas cortinas enfeitadas viraram panos gastos de chão. Sem utilidade alguma.
O jardim da frente, antes repleto de flores das mais diversas bonitezas e cores, via-se abandonado às zombarias. Triste, sozinho. Se pudesse chorar, seu canteiro estaria inundado.
Cada um que passava com seus móveis pela tal casa, assinava um documento referente ao tempo que pretendia permanecer dentro do local. Se fosse falar oi e logo em seguida dar tchau, que nem passasse pela calçada.

Mas diziam que iriam ficar, e logo se fazia quebra de contrato.
Acho que todo o pó causara danos à saúde dos antigos moradores. Mesmo tendo plena consciência de que a mente fora mais afetada do que o corpo.
A casa não era tão velha, sabe? É claro que alguns cupins já haviam se entrelaçado entre os detalhes de madeira no rodapé da cozinha. Mas suas janelas, por onde o sol costumava entrar, permaneciam conservadas. Deve ter sido a mistura de luz e chuva que rendera um eterno arco-íris a essa parte da morada.
Algo que incomodava bastante eram os barulhos durante a noite. O que tinha de quieta durante o dia, compensava a fio nas madrugadas. Não era de todo o mal, era apenas a maneira como havia sido construída.

Poderia ser melhorada, até. Mas acho que, de certa forma, não queria. Havia se acostumado mesmo a estar vazia. Não pretendia ser mudada.
A culpa não era da casa. A culpa era dos habitantes com seus desleixos.

Ou talvez não. Talvez a liberdade e a tamanha vontade de ser receptiva tenha gerado a ideia de que tudo poderia ser feito a ela.

Pobre casa. Tão aconchegante no inverno, tão refrescante no verão. Com variadas e contentes pétalas enfeitando o quintal na primavera, com garoas de folhas deslizando sobre o telhado no outono.
Normalmente o piso que rangia era o que mais chamava a atenção dos que viam de fora. Ficava à frente da doce melodia que soava na varanda.

Cada pessoa que passava pela casa, deixava um pouco de modificação.

Começaram cultivando ervas daninhas. Depois, mandaram fazer um lago. Logo após, um muro. E uma cerca elétrica. A casa só foi se modernizando na arte da segurança.

E o vento que entrava foi ficando mais fraco a cada mudança. Antes, derrubava paredes. Hoje, só balança cabelos. É puro e leve, feito pipa no ar.

À espera de seu verdadeiro inquilino, a casa tende a ficar.




segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Eu não preciso ficar olhando na janela

Chega. Tá? Estou indo embora porque o céu daqui é diferente do meu. Porque há muitos balões onde o resto só vê fumaça.

Talvez eu construa um carrossel. Sólido, não o dos meus pensamentos.

E aí eu fico girando, girando, girando... Sem sair do lugar. Até a última das luzes da avenida principal se apagar.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Porque ela quer

Semana passada abriu a janela e cansou-se do igual. Nesta semana olhou pra fora e sentiu-se anojada à obviedade.


Abriu a mochila amassada do fundo do armário e juntou suas tralhas.
Fechou a porta da frente. Havia marcado um encontro com o mundo.
Acenou para mariposas, joaninhas, vaga-lumes e gafanhotos. Seguiu linhas tortuosas.
Ficou um pouco incomodada ao queimar-se ao sol. Culpou o leite de que era feita sua pele.
Comprou um perfume doce de uma mais doce senhora. Cheirou sua flor preferida e sentiu-se óbvia também.
Caminhou por pequenos povoados e grandes cidades. Ergueu os braços aos céus no momento em que alcançou o topo da primeira montanha de sua vida.
Finalmente conseguiu estalar os dedos, mérito de um tocador de gaita da capital.
Sentiu-se atraída por um cabeludo em um bar. Vitimou inocentes com sua paixão. Partiu.
Comeu comidas exóticas, encheu o sangue de álcool e sacudiu seu corpo em lugares ilegais.
Cometeu pequenos delitos. Riu de si própria.
Fez amizade com hippies, bandas, homossexuais, donos de estabelecimentos e velhos e amargurados tocadores de banjo.
Pintou o cabelo de azul, roxo, amarelo, vermelho. Cortou novamente a franja e arrependeu-se, devido ao calor.
Foi a uma praia de nudismo e participou de karaokês competitivos.
Enxergou uma pequena multidão se levantar e marchar para um confronto.
Viu seu time inglês jogar e leu notícias sobre os hooligans na capa do jornal na manhã seguinte.
Recebeu ligações distantes e as ignorou. Perdeu seu celular num domingo, andando de trem.
Pediu para que estranhos a fotografassem. Beijou estranhos. Tomou um porre e acordou desnorteada.
Viu o pôr do sol no outro lado do mundo. Deitou em gramas e tentou pegar estrelas. Sentiu-se em sua terra natal.
Emagreceu quilos, ganhou outros.
Aprendeu a usar um rifle. Matou lembranças.
Envenenou-se. Provou do escárnio. Pichou um muro.
Fez pedidos à primeira luz da noite. Espichou-se e tapou a lua com o dedão.
Chorou ao assistir o concerto em homenagem a seu músico favorito. Só encontrou lágrimas a esse amor.
Percebeu que ainda guardava parte dos sentimentos perdidos.
Foi seguida por um cão vira-lata e adotou-o por alguns dias.
Tomou cafés da manhã seminua. Jantou com a solidão.
Colecionou folhas de árvores e guardou-as em livros amarelados. Vendeu sua voz em palcos para alimentar seu ego.

Cultivou arrependimentos e se arrependeu de tê-los cultivado.
Ensinou um pouco suas palavras. Aprendeu a falar francês.
Comprou roupas em boutiques caras, mas gostou mais dos vestidos pegos em brechós.
Correu para abrir a boca e receber os pingos d’água fresca vinda da chuva. Ensopou escadarias com seu desmazelo.
Caminhou de museus a confrarias. Estudou filosofia.
Não se formou em autoconhecimento, mas formou-se no do próximo.
Viu-se, mais uma vez, despedindo-se. Fechara o ciclo.

Porque ela saiu de casa num dia ensolarado, e nem lembra mais das manchas que embaçavam sua visão. Só lembra-se do sol. Daquele sol que a abraçou nos segundos em que permaneceu parada ao portão, olhando tudo.
Ela não precisava das vozes que a tantas lhe rebaixaram e a disseram como seria. Ela só precisava dela. Era apenas ela - e alguns lápis e canetas.
Porque ela queria pular de uma ponte sem se preocupar com o estouro. Ela queria ser levada pelo vento.
Porque ela queria achar seu caminho, mas não achou. Então ela o criou. E ainda continua criando-o.

Não só porque ela precisa, mas porque ela quer.
E quando ela quer, não há muros de concreto que a impeçam.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Sabe-se que sol não dura pra sempre, é claro. Isto é, pode ser interpretado como uma metáfora, ou não.

Mas um dia choveu. Choveu durante um longo período e varreu boa parte dos espíritos brilhantes. Tiveram que desempenhar seu papel longe dali.

E o que restou a nós, tão apegados? Tivemos de aprender a ser sozinhos num mundo em que se dorme no amor e se acorda sem alma.