domingo, 20 de maio de 2012

Decesso

Uma trilha de cacos de vidro no asfalto é o que se enxerga.
O ar gélido mantém o tom de luto. Paisagem cinza.
Bocas de espanto; olhares sedentos pela escuridão.
Através de janelas e portas, pessoas espiam para saber o que se passa. Porém, atitude alguma é tomada.
O sangue continua a escorrer.
Nada pronunciado. Nada é resolvido.
Aquele corpo, atirado em meio ao terreno isolado, chamara a atenção dos curiosos. Formara-se uma ignorante aglomeração de pessoas que, agora, divertiam-se com a desgraça.
Seres imundos. Sentiam paz e plenitude ao ver a carcaça presente, como se a falsa comoção fosse lhes render o céu.
Um ser havia sangrado e a ruela estava infestada de hipócritas.
O chão frio, azul. Cena lenta.
E eu ali, perdida. Não havia motivos para estar presente.
Perguntava-me o por que de ainda estarem olhando para a moça ensanguentada. Até se dar conta de quem se tratava.

Bem, também passara a observar.
Olhava daqui, insípida. Olhava para si mesma.
Via os traços inexpressivos e notava as mentes fervendo ao redor do cadáver duro.
Tentava sussurrar algo, mas era em vão.

Já estava morta.

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